22:43'

Perpassei por palavras e anos desde a primeira escrita, me vi em cada parágrafo, vírgula, exclamações, interrogações ...

Continuo sem ponto final

Para domingo pela manhã

Não devíamos ter pesadelo, um sonho ruim.

Dormir, não é para descansar?

Assistia  as cenas ao redor

 ninguém me percebia, me ouvia.

O ar mais veloz que o peso do meu corpo, me falta

suspiro......consigo me movimentar.......

estava no Cine Virgínia lotado.

Não gosto de gente? Ou de sala cheia de gente?

Falta-me o ar, de novo, suspiro....... 

queria ter o controle para sair à procura dele

antes mesmo de me faltar.

O ar alivia, cessa batimentos do coração acelerado

 me tira do todo do sonho ruim

obrigada ar por me acordar .

Tomara o próximo, seja como sonho de criança, que não precisava de asas para voar.

Borboleta.

Para sábado de manhã

 Revirada a cabeça,

penso no medo de não olhar mais o céu

com os mesmos olhos de criança.

Noite passada sonhei com um amigo,

pude sentir o toque quente e apertado do seu abraço, 

 dele tive notícias distantes de tempos ruins para si.

Será que a única coisa que importa é  saber 

a utilidade que temos para este mundo?

e

 criar desejo 

o desejo sempre presente nas coisas ausentes?

Entre pensamentos e ócio
Sigo.......

O impossível é uma quantidade que excede o que nos falta.

                                                                   Valter Hugo Mae

Rosa! Desça o jardim até onde o silêncio sopra......
....  sinta Rosa, há  três dias, o novo ano chegou ......
junto às dálias
pede permissão ao tempo
para sonhar!
Silêncio.

estou precisando de um livro.....pensar no que fui, que
 amei ser....e
e de tudo e todos que me fizeram ser o
que sou...

Sim
é preciso compartilharmos mais......

Rosa, passei por sua cidade
foi rápido,
mas percebi que o tempo de lá
ainda é distante do tempo de cá
lá a Igrejinha branca de janelas azuis abraça a luz dia,
acolhe a luz da noite.....
e paralisa o relógio.
Rosa,
vou passar mais vezes por lá.........,

Sim,
Tudo era grandre e distante para menina no quintal com lápis de colorir.

Agora,
Tudo continua grande e distante para a mulher no quarto com seus sonhos a seguir....

Seguir,
as coisas mais simples da vida, mediada pelo desejo e coragem da menina que continua
residir em si.

“Inconstante e borboleta”, felizmente nasceu assim.......

....... encantamento?
Sim
Mora no não esquecimento.
Sinto.
Vivo.

Descuído?
Não, não foi descuído meu olhar para o céu
quando troprecei no tempo....

Rosa
Abra a porta.
Encontre Álvaro 
Ouça Fernando...........
"Durmo com a mesma razão com que acordo
E é no intervalo que existo."
 
Aprendendo a vida pela imaginação.

Tenho que sonhar com toda minha força.

Tentar é a palavra.

Tentar ultrapassar minha inércia......

Rosa!
Não me esqueci das palvras que me apoderei de você....
Estive sumida de mim novamente,
Retorno logo,
e segurei nos trilhos retirados no caminho
da cidade de pequena, que continuam
ali
na memória
que perdoo por resistir.

Rosa, a noite caiu na Igrejinha branca de janelas e portas azuis,
e o dia vai nascer no mesmo lugar junto ao canto dos pássaros e céu de outono...
corra e avise ao mundo
para não sumir.

Pegue-o pela mão e siga a rua onde rosas caem e perfumam
o dia
perfuram o tempo, arranham a pele
num toque suave...
Pegue-o pela mão e siga a rua onde rosas caem e perfumam
a noite
perfuram a palavra, arranham o beijo
num toque enlouquecido...
Pegue-o pela mão, ouça seu segredo
e
silencie
os olhos.

Pegue a rosa...
Entre os olhos o perfume...
Exala.

A pétala caída desfruta a fala.

O Dito dizia que o certo era a gente estar sempre brabo de alegre, alegre por dentro, mesmo com tudo de ruim que acontecesse, alegre nas profundezas. Podia? Alegre era a gente viver devagarinho, miudinho, não se importando demais com coisa nenhuma.
Guimarães​ Rosa. Manuelzão e Miguilim

Sim, proximidade não é sinal de intimidade.

Não fechar o sentido
da palavra
é o sentido...

Carrego no meu nome o A de água,  o MAR de mar, amar,  o FE de fé.

Ps: Obrigada pai, e minha mãe que sempre aceitou (não sei se com bom humor) as decisões solitárias e meio impositivas do marido quanto a escolha dos nomes dos filhos.

Como fazer , coser
O tempo
Como sentir, tocar
A voz
Sós

Arca de Noé

(...)desde muito cedo, meus pais ensinaram-me o caminho da fé, e a aproximar-me de um Deus que acreditava através deles. Vivi num ambiente católico envolta por seus rituais, que tentava ingenuamente segui-los, nunca entendi muito bem o que os adultos chamavam de pecado. Com dez anos de idade, tive que me confessar para a primeira comunhão, minhas pernas tremiam, minhas mãos suavam frio, o medo era maior que a vontade de encontrar com o Deus pela hóstia, ao invés de me confessar lembro-me de ter perguntado ao padre o que era pecado para ver se uma das minhas mal-criações enquadravam-se a um deles.
Meu pai ficou sabendo e sorriu.
(acabei de encontrar este aforismo de 2000, dentro de uma das minhas várias caixas acondicionadas no guarda-roupa)
***
PS. Não sei por que há época chamei este aforismo de Arca de Noé, resolvi mantê-lo, não sei também , ainda hoje, porque criança tem de se confessar . Criança não deseja mal a ninguém 08.11.2009

é a infância que nos carrega
na vida adulta.

Não esqueço que só vale  a vida se for por amar.

Afetos inominados.
Silêncio no abraço.

Aporias
Silencio meu próprio silêncio
entre outros silêncios....... 

"A vida não tem explicação. "
Nas arranhuras
Nas tecituras
Nas armaguras
Nas alegrias
Vivo
Revivo
Vivo

Tenho
histórias para contar
segredos para guardar
vida para compartilhar
céu para tocar. ........

Preciso de ar
para sonhar.......
respiro

O plano agora, é não ter plano e ponto.

Nunca saí pela madrugada sozinha, para ouvir o silêncio__
Por ser mulher.

Às vezes queria que tudo se mexesse, que nada durasse...... que o amanhã acontecesse agora.

E Deus disse ao Ilmo Sr. Manoel: "Vou ajeitar a você um dom:
Vou petencer você para uma árvore.
E pertenceu-me.
Escuto o perfume dos rios.
Sei que a voz das águas tem sotaque azul.
Sei botar cílio nos silêncios.
Para encontrar o azul eu uso pássaros."
(...)

Empresta-me suas palavras poeta!

E Deus disse a mim: Vou ajeitar a você uma alegria.
Vou pertencer você  para um sonho.
"E pertenceu-me."
Escuto o som do silêncio na presença da simplicidade .
Sei perceber o rastro do tempo nas flores que nascem nas trincas resistentes das paredes, dos passeios......... semeadas pelos pássaros.

Aqui, no interior, na casa da infância , vivo lembranças numa espécie de embriaguez, renovada todas as manhãs pelos pios dos pássarinhos e revoada de maritacas. Abro as janelas e por longos  minutos  perfeitamente felizes, olho para o  céu e tudo que ele abraça ..........

Incompletude é  a palavra.

......e
ter a capacidade de ver além de cada coisa.
Olhar.

Meu tempo é  diferente do seu ........
Vivo...... menina
Ali, onde as janelas iluminadas por cenas do dentro e fora, não  fecham as zonas de silêncio e se abrem para dentro dos afetos

Passada a tormenta do desencanto
no desencontro do encontro.....tudo soa breve
....... e a lembrança
esta
vem lenta
leve
indizível

Ando
Procuro
Redefino
Redescubro
O poema
Do fazer
Sem boicote .......com alma de querer
Sem perceber, refaço  o pensamento
Abandono o preconceito de mim em mim.............sou antes de ter.
E
Sigo o som da borboleta no percurso do ar.

Leio Llansol
Alma
Texto
Vestido
Piano
Tempo
Memória
Ver
Ser

"A felicidade só é real quando compartilhada."

É um respiro!

A letra "a" inicia os nomes do pai e da filha.
Vogal desenhada no afeto somada ao amor.................. "a" infindável..............
segue entrelaçado ao rabisco do tempo que só é interrompido pelo ruído dos desentendidos de "ser".....................
Eu sou.

Gosto de estar onde há poesia.

O tempo do amor é infinito.
...........é

Tudo que você  ama, você  eventualmente  perderá,  mas, no fim,  o amor retornará   em uma forma diferente.
 
                                        Franz  Kafka

" Vamos  ao infinito e além "........

Como a memória  enterra certas lembranças ao mesmo tempo que inventa outras...........
...................eu sei que
sempre resta algo para a vida,
para a morte.

Sua excelência vida
Que me tens
Ode

Tristeza
um relógio  sem ponteiros.

Pinçei  o silêncio para reamonizar......deixei a serenata exalar no pensamento  de lá. ............... lá, onde  o tempo se encarrega de diluí  o que já  era rarefeito.......... e eu não  percebi.
Eu deixo, agora, a tristeza  num canto para criar meu lugar escondido.

Hoje,

eu digo sim 

à nuvem carregada.........

à chuva por vir ..........

Não contesto os riscos  da vida.....................vivo
E
na angústia  inevitável, busco refúgio  nas lembranças  do céu  visto do quintal da minha infância. .............
pontual agora só  o silêncio.
É sábio  seguir.............
E
Reencontrar as flores.

(Com afeto para Rejanne, amiga sempre)

Hoje,  27 de abril,  ouvi a seguinte frase: "raiva é um sentimento muito raso de uma tristeza profunda."
.................. é tempo de ir
Por hoje não é preciso ouvir mais nada.

No Paraíso do artista
existe drama
agonia
suor
Intensidade. .....uma noite
Paraíso
de tormentas.........

Hoje o dia foi de rever palavras
Remendar falas
Acordar orações
Costurar pensamentos
E
Sobretudo não falsear
minha história.......
.

Quarta feira
quase nada
no som mudo
das palavras,
a realidade é sentida no continuo das coisas mínimas...........sonho
e
lembro do sonhado...................

Sobre o dia
Inicio nova leitura
Descubro que pode ser verde
O dia
E
Melhor que dar
É transmitir amor
A dor
Amor

Meus medos somem  onde começa o jardim.
Ninguém. Só borboletas.
Meus passos procuram moradia.
Ninguém.  Só borboletas.
Meu corpo deita sobre as roseiras.
Ninguém.  Só borboletas.
Não temo.

Uma palavra: inflexão.

Para sempre é o agora.

Ensaio sobre a desmemória

Passo  dias  entre localizar lembranças,  palavras,  lugares e dias em que permaneço em silêncio.

"Não importa. Tente outra vez. Fracasse outra vez. Fracasse melhor."
-Samuel Beckett

Por um instante, retive o sonho dentro de mim....................busquei as palavras e as pedras.
Busquei
E
Não consegui.

O extraordinário, para mim, reside nas coisas ínfimas.

.......sem paralelos  com a vida daqui, a vida, de lá, onde nasci, é simples, é afável......... a solidão é curada com mel e açucar toda manhã.

Não sei bem porque escrevo. Para ser franca,  sinto que tenho algo a dizer,  para não esquecer quem sou.
Antes do  fim, escreverei novamente. Pometo.

2014
Eu devia estar desiludida, realmente espantada com a idéia de não poder acreditar na afetividade e sinceridade do " outro". Não é fácil assimilar. Porém,  mais tarde, à medida que fui compreendendo mais claramente a situação,  minha raiva passou. E retomo à máxima de que tudo que é humano é permitido e me faço mais branda ao rascunhar os aforismos meus e alegrar-me com a sutil  flor de cactos.

Sim ao sonho
Sim aos desafios
Sim ao perdão
Sim ao instante feliz
Sim a vida
Sim ao desejo
Sim ao amor.....sempre

Ah, a vida.............um pouco de tudo, e um pouco de 'nada'.

Sim, talvez por não saber um tanto de mim. .......... me perco um tanto mais de você...

Por agora sinto ..... quando estava mais difícil, estava mais fácil.

A dor diminuiu. ..... a saudade
não..........

Nesta manhã estive por aqui...
Afaguei o silêncio.
Lembrei-me do Sr.Manoel.
Sou o verso e o reverso de mim.....
procuro a sua borboleta de transformar homem.
Não me canso.
Não me esqueço do Sr. Manoel.
O seu nada vem comigo até meu fim.
......morre-se
e até que chegue em mim, vou seguir respirando as coisas desimportantes enfim...........

Tenha paciência. Sei que às vezes me desvio do tema, mas, se não escrever as coisas como me acontecem, sinto que as perderei para sempre.

No país das últimas coisas.  Paul Auster

Certifico que, compulsando os autos, deles verifiquei que pessoas fracas não conseguem terminar nada...... sempre esperam que o outro o faça.  Dou fé.

Eu acredito em mistério.............

Sempre soube. Ao abrir a porta. Seria levada pela mão ao meu jardim. Sempre desejei este lugar. Nele havia tudo que me fazia estar centrada em mim. Agora descentrada de mim, de quem eu era, sou outra que escreve para aliviar a incomunicabilidade do disrurso de amor..............tudo; o resto, ficou dentro do pensamento.
O eco do silêncio retorna.
O jardim; agora, tenho que encontrar.

Quanto mais você recua no passado, mais belo e desejável se torna o mundo. Você é arrancado do sono, todas as manhãs, para se confrontar com alguma coisa que é sempre pior do que enfrentou no dia anterior; mas , falando no mundo que existia antes que fosse dormir,  acaba conseguindo criar a ilusão de que o dia de hoje não passa de uma aparição nem mais nem menos real que as lembranças de todos os outros dias guardados dentro de você.

No país das últimas coisas. Paul Auter.

O tempo se encarrega do esquecimento.........não de mudar os fatos........
antes teceira pessoa do plural, agora primeira pessoa do singular. ........respiro o silêncio.
Aguardo a palavra.

Não foi o que você fez.
Foi o porquê.

Domênico Massareto

E então perguntou, por que a gente tem medo?
__ Porque a gente tem sentimento. 
__ Então disse:
__ Você roubou a minha embriaguez..... e me fez seu duplo.

A história já foi contada......mas ainda não é dada a hora de se despedir...

Nunca deixo de olhar para o céu.

One month after end.

Pois os sonhos precisam também ser substituídos...Sozinhos, per si, nunca terminam e sobrevivem a si mesmos, sabe?

Fiódor Dostoiévski

Na primeira quinta feira do fim de nossas vidas....... a escrita teimava em sair da linha reta.....vi tudo que vi, vivi tudo que pude, no tempo grande e longe. O tempo era sempre agora......cada coisa tinha o seu lugar entre achados e perdidos. Entendi como pude correr com a pressa que não tinha antes, e acabei achando
a outra que destruí em mim.

Sou de peixes e
definitivamente  resido no Outono.....

A maior riqueza do homem é sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou -- eu não aceito.
Não agüento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas,  que olha o relógio,  que compra pão às 6 horas da tarde,  que vai lá fora, que aponta lápis,  que vê a uva etc, etc.
Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.

Ilmo Sr. Manoel de Barros

e amar, e mais amar, depois de ter amado.

Guimarães Rosa

neste momento eu  queria  poder voar.....

Não sei se a vida é pouco ou se a morte é demais para mim.....não sei.
Sei que vi tantas coisas, disse tantas coisas, ouvi poucas coisas que queria ouvir......senti o pensamento, a falta de gesto, e uma emoção que não vivi.......não sei em qual tom ficou o ruído da verdade não dita, sei que me decepcionei.  Minha tarde de quinta na cidade, cai aos poucos, monótona, morna, mas cai. E sobrevivi, vi.......o que agora é melhor, sim. Sim.

a quem pertence? O silêncio, o seu som em ruídos?

Ontem, hoje, sempre........ Porque o sempre é o tempo eterno do silêncio.

Sim, presto atenção no tempo e decifro o seu perfume.......

A cada palavra dita, a cada sonho vivido, a cada medo sofrido, a cada verdade ocultada, a cada razão compartida, a cada confissão dividida, a cada coisa vivida..... alguém sabe dizer o que é correto, o que é justo? A cada certeza a incerteza..........Isto não era exatamente o bem ou o mal......simplesmente

Não sei ao certo o dia em que nos encontramos. O certo que nossa história já existia antes dali.

Parar de julgar, e só. Isso é tudo. Preciso captar o silêncio e gozar a vida que escolhi para experimentar, e só. Percebi que por anos as poucas pessoas em que confiava continuavam ali, fiéis, ao meu lado, não precisava ir longe, e só.......

Preciso não pensar, esquecer de mim mesma......... sensiblidade não se explica

Hoje o que resta já é quase passado.

Ascendo uma vela ao tempo. Este tempo que dói e acaricia ao mesmo tempo.

Hoje a vontade foi de ser alguém ou algo que pudesse ser levado com você. ...que pudesse desfazer os nós dos seus medos..... me virar do avesso e te dar a palavra que tivesse a medida exata do silêncio. .........

Desviava o olhar, mas me rendi a mim...... amor infidável

Nem sempre o difícil fica sem fazer,
fica na espera do fazer..........

(dos rabiscos sem fim) XXI Preciso de um pouco de tédio. Preciso (não) pensar. Preciso do choro da despedida.

Quantas coisas, que temos por certas ou justas, não são mais que os vestígios dos nossos sonhos, o sonambulismo da nossa incompreensão! Sabe acaso alguém o que é certo ou justo? Quantas coisas, que temos por belas, não são mais que o uso de época, a ficção do lugar e da hora? Quantas coisas, que temos por nossas, não são mais que aquilo de que somos perfeitos espelhos, ou invólucros transparentes, alheios no sangue à raça da sua natureza! Fernando Pessoa. Livro do Desassossego

Não se inventa brilho nos olhos quando não há amor.....Não se inventa o silêncio quando não há o que dizer.....Não se inventa a felicidade sem a obrigação de ser ...... Não se inventa a palavra sem desinventar o real.... afinal

Aqui onde estou só, a noite nada mais é que uma impermanência, sentir supõe a distância. ......

Me dê uma palavra.
Uma palavra que una início e fim.
............. que
Nao carrege prefixo e sufixo 'dor'.
Me dê uma palavra.
Que me leve a porta de saída não do um, mas do dois.

Um dia, três outonos.

Que ele continue a chegar devagar sem pressa de partir e junto com a limpidez do silêncio feche os olhos e me dê uma palavra.

Aquele assoviar tinha curiosidades que só a ele pertenciam. Por exemplo, um tinir  cadenciado pelo seu caminhar. O som podia  se ouvir ao dobrar a esquina da rua de casa. Eu me instalava no seu assovio como num nincho e  abria a janela que dava para a rua, para vê-lo chegar.

Tecemos os dias às noites e alinhavamos nossa história no amanhecer. Não negamos nossos sonhos e no desejo, não reduzimos o amor no encontro. Acreditamos pessoalmente na duração e no tempo. Apreciamos os ruídos do silêncio e o lado aventuroso da vida. O enigma do encontro ......deixamos para depois. Agora somos Dois. Em breve retornaremos.......

"Silêncio antes de nascer.
Silêncio depois da morte.
A vida é puro ruído no meio de silêncios insondáveis. "

Isabel Allende

"A lembrança é a liberdade do passado."
Maurice Blanchot

Vejo-me  sempre pequena ao seu lado, vestindo um vestido azul marinho com bordado de joaninha que fez para mim, sentada num quintal ensolarado, cujo poucos metros quadrados abrigavam um galinheiro, uma mangueira, uma goiabeira e outras plantas e hortaliças de sua predileção.  No ar desenho  agora círculos e linhas como quando criança e me recordo da felicidade....

Como Diógenes e Alexandre, só pedi à vida que me não tirasse o sol. Tive desejos, mas foi-me negada a razão de tê-los. O que achei, mais valeria tê-lo realmente achado. O sonho.

Fernando Pessoa

Pela luz que amanhece. Pela luz que adormece. Eu tento ser.