domingo, 27 de junho de 2010

segunda-feira, 21 de junho de 2010

"Entre" perdas, ganhos


Nunca parei para pensar na perda
de maneira a acrescentar...
há seis anos, já no crepúsculo do final
de mais um dia frio, na Rua da Paisagem,
pensei e senti
estar vivendo o pior dia
dos meus trinta e cinco anos de vida
naquele instante, não havia outro sentimento
que saberia nomear com grandeza,
que não fosse o sentimento de um branco vazio,
preenchendo meu corpo, sufocante como um ar quente
(que não habitava aquela sala fria)

e

com ele pude sent(ir) partes em meu corpo que eu nem sabia
existir, possuída de uma dor insuportável...
.....................................................................................................
.....................................................................................................

Segunda feira, hoje, a dor é mais amena
para bem dizer, inexiste
sorrio ao lembrar do seu sorriso
não o tornei herói de batalha alguma,
nem perfeito após sua morte
apenas o que o é para mim
pai
—sinto com clareza a sua partida
com ela, a aproximação do afeto sólido
de um amadurecimento necessário

e

um controle favorável
ao bem fazer do simples
nesta vida circunstancial (...)

segunda-feira, 7 de junho de 2010


                                       Dos registros das coisas pequenas:   Máquina de datilografia. Folha de papel com frase grafada (a quem pertence?),  som seco de toques no teclado e o folhear de páginas, música Bach. novembro 2005

domingo, 6 de junho de 2010

É,
é o tempo
por assim, uma espécie de caminho...............................................
Caminho pela antiga linha do trem de ferro;
"neste agora", estende-se por longa e larga avenida que divide a cidade em norte/sul com curvas quase imperceptíveis que, quebram o quase  vento quando este se dá por vivo.
Vê passos, onde já se ouviu:
—  o trem.
É quase noite, em torno de mim, docemente a sombra do meu corpo vai-se acumulando — deixa leve a matéria — metáfora em movimento.
Percebo sua companhia em suave dupla à minha frente,
uma mais rubra, outra mais clara.

(...)

A criança passa ao lado com sua bicicleta, olhei a mim.
É,
é a sombra
por assim, uma espécie de companhia... fiel multiplica-se entorno, há outra ao lado direito, volta o olhar para a esquerda, outra aí está, de súbito vira o olhar para trás e uma te guarda — de repente sou cinco em companhia de mim mesma — projetada, protegida, ladeada em maior e movimentos ternos

na penumbra

do silêncio

(...)

A bola passa por meu caminhar — há mais crianças nos jardins do canteiro central brincando sob os olhares atentos dos pais — o movimento ao lado é preciso como o som do relógio, cadencia intermitente...

Nada desvia a voz no pensamento, as imagens sonorizam meu imaginário, às imagens vem palavras.

(...)

Posso adormecer, voltar para casa na curta rua que hoje já não possui seu calçamento em pedras, queixa constante da mãe, ela já não sente o cheiro da terra molhada, agora água da chuva escorre sobre o asfalto, como o tempo...................................

O trilho por onde o trem passou, deu memória — a sombra trouxe a beleza das coisas simples.
O canteiro e a visão do sino, o som da lanterna de sinalização nas mãos do agente ferroviário e o apito da locomotiva, a estação e o café quente em bule esmaltado de cor verde bandeira com desenhos de flores em seu corpo entregue em mãos do pai pelo filho .........................................


(Reparo, são 16:50’, sexta-feira de maio, a mãe continua em casa, no interior — sorrio de  mim mesma, resisto a caminhadas para exercitar o corpo, estranho, sou acometida por uma vontade repentina de caminhar, então, pego aquele tênis guardado na parte inferior da estante de livros, condicionado no saco de tecido, meio que adormecido há tempos, nada como de costume, nem o tênis na sapateira, nem caminhadas nos dias quentes da cidade...)

Vestida com roupa leve, segue... o trem parado já não interrompe a passagem do lado norte do sul da cidade.

No caminho, um Portal feito dos trilhos acima da escadaria —  assinala um dos acessos à Sede da Estação Ferroviária.

(...)

A linha contínua... costura com fios invisíveis a passagem ao sonho...............................................................

Pouso o lápis e sua sombra

Penso:

— estou perto de casa

estou em casa.



Curvelo mg 07/05/2010