sexta-feira, 28 de março de 2008


Recuo do silêncio

O silêncio guarda ruídos:
da chuva fina no telhado do quarto dos pais,
do estralar dos móveis da sala de jantar,
do ranger da treliça da porta da cozinha,
da sombra das roupas esticadas no varal do quintal,
da luz trêmula do amanhecer entrando pela fresta da janela do quarto da filha,
do beija-flor alimentando do néctar da flor artificial,
do apito da chaleira,
do biscoito mergulhado na gordura quente da panela de ferro,
das mãos finas da mãe que correm sobre o bordado do presente,
da linha da minha escrita de encontro com o papel a desenhar palavras a um só tempo, nesta manhã.
(É).


20.03.2008 8:45'

quinta-feira, 6 de março de 2008

Agora só espero a despalavra: a palavra nascida
para o canto _ desde os pássaros.

Manoel de Barros