quinta-feira, 30 de dezembro de 2010


Do caderno de anotação




*444.

Tudo se me tornou insuportável, excepto a vida. O escritório, a casa, as ruas — o contrário até, se o tivesse— me sobrebasta e oprime; só o conjunto me alivia. Sim, qualquer coisa de tudo isto é bastante para me consolar.*  ................Eu, hoje, não possuo a minha alegria— como eu posso possuí-la sempre? Eu não possuo meu desassossego — como posso possuir meu sossego? Não compreendo minha tristeza acordada — como através dela compreender? Enumerar motivos e delegações? Não possuímos o corpo, a alma, quem dirá o espírito? Não possuímos a verdade, nem sequer a ilusão, e nossa vida neste momento fica oca de construção, por dentro e por fora. Mas não nos percamos, tudo isto cheira mundo. Sê indiferente à angústia não trará a felicidade para ti. Meu marido pega minha mão — esboço um sorriso— respeita minha lágrima e diz: escuta , quem tem cinco amigos como você, pode considerar-se feliz. Que o resto da vida nos deixe viver....................



Bom tê-los, amigos, para amar (um vale por dois, SEMPRE!).

*Fernando Pessoa,Livro do Desassossego.

Um comentário:

Anônimo disse...

Lindo amiga!
Adorei a foto com a gravura que trouxe pra vc e o trecho do livro que o Carlos gosta...
Realmente, quem tem um amigo de verdade, esse vale por dois!
Te amo

Carol